O gasto público populista irresponsável gera, no médio e longo prazos, consequências danosas às classes populares
Por Marcello Averbug
Apesar de não refletir a preferência manifestada em 2 de outubro por 51,6% dos eleitores, são consistentes as indicações de que Lula é favorito no segundo turno. Partindo dessa hipótese, é previsível que um novo cenário político seja criado, demandando o reposicionamento dos partidos, da população e da mídia diante de Luiz Inácio Lula da Silva novamente presidente.
Os que optarem por ele porque a alternativa seria pior se encontrarão no dever de acompanhar intensamente o desempenho do governo. Não para exercer oposição destrutiva, mas sim para cobrar políticas propícias ao desenvolvimento econômico e social, sob um clima democrático e de honestidade irrefutável. Aos adeptos do PT, caberá manter-se atentos ao que for realizado nos próximos quatro anos, como requisito para justificar sua fidelidade ao partido e a seu líder.
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Lula — por consequência o PT — não merecerá perdão se abstiver-se de enfrentar empecilhos à prosperidade nacional que perduram desde passado remoto e, também, se deixar de priorizar áreas negligenciadas historicamente, entre as quais as a seguir mencionadas.
Caso se omita em promover o tema do meio ambiente à linha de frente de sua atuação, o provável governo Lula será alvo de completo descrédito, e o PT perderá razão de existir. As mesmas consequências serão justificáveis caso deixe de executar uma política de atenuação dos contrastes sociais de renda não restrita a caridades governamentais. A política correta visando a melhorar a equidade requer medidas tributárias e investimentos para aumentar a eficácia e a abrangência de setores que beneficiam proporcionalmente mais as camadas de menor renda, como educação, saúde, transporte coletivo, habitação, saneamento e outros. O realizado por Lula durante os mandatos anteriores foi insuficiente para mudar de maneira substancial a fisionomia desses setores.
É também indispensável buscar tranquilidade para as contas públicas. Não sob a ótica de submeter todas as áreas da vida nacional ao rigor fiscal implacável, mas sim para tornar o setor público financeiramente apto a agir em prol do crescimento econômico e da equidade social. Mesmo quando no curto prazo aparenta beneficiar as classes de menor renda, o gasto público populista irresponsável gera, no médio e longo prazos, consequências danosas a elas.
O lema da antiga UDN, União Democrática Nacional, partido do período 1945-1964, dizia:
— O preço da liberdade é a eterna vigilância.
Pois bem, agora torna-se oportuno afirmar:
— O preço da governança exemplar é a eterna vigilância.
O Brasil não pode se dar ao luxo de desperdiçar mais quatro anos nas mãos de governantes nocivos.