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O que pensam os altos comandos das Forças Armadas sobre a ação da PF que mirou dois ex-ministros da Defesa

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Militares

Oficialmente, o Ministério da Defesa não se pronunciou com uma nota pública sobre a operação de ontem da PF, que realizou buscas e apreensões nas casas de generais de quatro estrelas, entre eles dois ex-ministros da Defesa, além de ter prendido outros militares de patentes mais baixas. Houve apenas uma declaração sucinta e protocolar do ministro José Múcio Monteiro: “Cabe às Forças Armadas apoiar a decisão da Justiça”.

Nos bastidores e em conversas privadas há um discurso afinado quando o assunto entra em pauta. Uma narrativa certamente já previamente combinada entre os Altos Comandos das três forças e José Múcio.

Pode ser resumido em três tópicos:

* O material colhido pelas investigações da PF é robusto, mas teria ficado provado que as Forças Armadas não queriam o golpe. As mensagens do general Braga Netto, criticando acidamente tanto o então comandante da Aeronáutica (“traidor da Pátria) quanto o do Exército (“cagão”) seriam a prova disso.

* Causou mal-estar e constrangimento o fato de tantos colegas de farda e de geração estarem envolvidos na articulação. E, claro, a exposição pública de tudo isso. Afinal, entre os principais alvos da operação surgiram cinco generais de quatro estrelas e um almirante. Mais: nunca na história brasileira tal quantidade de oficiais militares dessa estatura esteve no centro de uma operação deste tipo. Mas, apesar disso, teria tido, segundo a narrativa que se quer transmitir à opinião pública, um aspecto positivo a operação. Qual? “Antes havia uma suspeição generalizada. Agora, a suspeição foi fulanizada. Os suspeitos têm nome e sobrenome. E neste momento caber a Justiça atuar”, diz um interlocutor privilegiado dos altos comandos das três forças.

* As Forças Armadas não se oporão a qualquer decisão da Justiça. Ou seja, se os suspeitos forem presos, seja quem for, será acatado.

O fato inconteste é que, se se golpe não houve e os comandantes do Exército e da Aeronáutica de então não deram qualquer sinal verde para o desarranjo institucional, a investigação revela que entre havia, sim, um nítido ânimo golpista em oficiais de alta patente. E isso fica claro com o material revelado ontem em relação ao comandante da Marinha, Garnier Santos, e de um dos mais destacados quatro estrelas do Exército de então, o general Estevam Theophilo, chefe do Comando de Operações Terrestres, responsável por todas as operações de tropas do Exército no Brasil e no Exterior.

De acordo com a decisão de Alexandre de Moraes, que embasou a operação da PF, “no dia 9 de dezembro de 2022, o general se reuniu com o então Presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Alvorada e, de acordo com os diálogos encontrados no celular de Mauro Cid, teria consentido com a adesão ao Golpe de Estado desde o que presidente assinasse a medida.”. Ou seja, estava disposto a botar as tropas na rua para minar o estado de Direito.

Ainda há muita investigação pela frente. Mas independentemente do que virá por aí, a volta dos militares ao jogo político no governo Bolsonaro, que os incentivava a isso, foi uma perigosa ultrapassagem de sinal.

Por Lauro Jardim – O Globo