Há quase dois anos sem partido, desde que deixou o PSL, em 2019, o presidente Jair Bolsonaro enfrenta percalços na escolha de uma sigla para disputar a reeleição em 2022.
Bolsonaro tem a caneta de presidente na mão e a máquina do governo, mas encontra resistências em partidos.
As razões vão mais além da tentativa do presidente de ter o controle do partido no âmbito nacional e em diretórios estaduais importantes. Na raiz da distância que aliados mantêm do clã Bolsonaro reside a falta de confiança no compromisso do presidente com a legenda que o recebesse.
Nas entrelinhas, outro fator se sobressai: a dúvida sobre a viabilidade eleitoral do presidente, que vem perdendo apoio popular segundo pesquisas de opinião, em especial em segmentos do eleitorado considerados cruciais: renda mais baixa, Nordeste, jovens e mulheres.
Hoje, as negociações estão mais avançadas com o Progressistas, partido presidido pelo senador Ciro Nogueira (PI), que acaba de ser escolhido novo ministro da Casa Civil. É também o partido de Arthur Lira (AL), presidente da Câmara dos Deputados.
Nos últimos dias, o blog conversou com lideranças políticas no Congresso e de partidos para entender a dificuldade de Bolsonaro em definir uma legenda para ele, seus filhos e aliados que prometem migrar com o presidente.
Efeito PSL
Os líderes citam a tumultuada saída de Bolsonaro do PSL.
Na época, ele teve uma disputa pelo controle da legenda com o fundador do partido, o deputado Luciano Bivar (PE).
O partido tinha pouca expressão até ser catapultado, em 2018, com a eleição de Jair Bolsonaro à Presidência. Com Bolsonaro como puxador de votos, o PSL chegou à maior bancada da Câmara dos Deputados, ampliando também os recursos partidários.
Foi essa transformação que deu ao presidente e seus aliados o argumento para tentar tomar o controle do partido. Ao perder a briga para Bivar, o presidente deixou a legenda e chegou a anunciar a criação do Aliança Pelo Brasil, partido que nunca conseguiu viabilizar.
Esse histórico de disputas internas e embates públicos foi citado por duas lideranças de partidos que apoiam Bolsonaro e que na linguagem cautelosa da política do Congresso, dizem preferir manter a relação de aliados, não correligionários.
Um ex-aliado é ainda mais direto ao afirmar que nenhum partido quer viver uma situação em que Bolsonaro, que só demonstra ser fiel a seus filhos, tente capturar uma legenda.
Depois de desistir da criação do Aliança, Bolsonaro ensaiou negociações com o Patriota, partido ao qual o senador Flavio Bolsonaro (RJ) se filiou recentemente e chegou a anunciar que o pai seguiria o mesmo caminho. O plano foi frustrado pela divisão interna que o anúncio da chegada dos Bolsonaros causou no Patriota.
PP
A bola da vez é o PP. Dentro do PP, entretanto, setores do partido resistem à chegada de Bolsonaro, mesmo ele sendo um velho conhecido, que foi por mais de 10 anos integrante da sigla.
Uma das razões é a variedade de alianças regionais do partido. No Nordeste, em especial, alas importantes pepistas estão de mãos dadas com o PT. A perspectiva de Bolsonaro enfrentar Lula, um nome difícil de ser superado na região, trouxe ainda mais resistência
Esperar ou definir logo?
Lideranças de alguns partidos sugerem que seria melhor Bolsonaro esperar um pouco mais para definir sua sigla.
O que eles pretendem, é acompanhar se a popularidade do presidente irá se recuperar com a perspectiva de vacinação da população e retomada da economia – ou com programas a serem anunciados, como um novo Bolsa Família, mais reforçado.
Para assessores próximos do presidente ouvidos pelo blog, Bolsonaro não deve esperar muito mais. Há uma leitura de que a demora faz com que a conta fique cada vez mais cara.
Nos últimos dias, a reação do presidente à aprovação pelo Congresso de um fundo eleitoral bem mais gordo, de R$ 5,7 bilhões, colocou mais empecilhos na relação com os partidos.
Aliados viram na atitude de Bolsonaro um oportunismo eleitoral para tentar se dissociar de políticos tradicionais – exatamente aqueles que ele precisa agora para dar sustentação a seu governo.