Oito ararinhas-azuis, as primeiras nascidas no Brasil, foram transferidas de um Centro de Reprodução, em Minas Gerais para a cidade de Curaçá, no norte da Bahia, na noite de quinta-feira (18).
Uma aeronave da companhia aérea Azul foi especialmente adaptada para essa operação e decolou do Aeroporto Internacional de Confins, às 15h06, chegando ao Aeroporto de Petrolina às 18h04.
As equipes da Bluesky e da Associação para a Conservação de Papagaios Ameaçados (ACTP) chegaram ao aeroporto de Petrolina, em Pernambuco, por volta das 16h, com o grupo de patrulhamento tático da Polícia Rodoviária Federal (PRF), para realizarem o planejamento logístico e garantir a segurança das aves no trajeto até o refúgio na Bahia.
Em seguida, o comboio com as aves e técnicos foi escoltado pela PRF até o centro de reintrodução, localizado na zona rural de Curaçá, onde as aves receberam avaliação médica.
De acordo com Cromwell Purchase, diretor da ACTP no Brasil, as aves chegaram bem e estão se adaptando ao novo ambiente.
A ararinha-azul é uma das aves mais raras do mundo e foi considerada extinta na natureza em 2000. Desde então, a ACTP tem trabalhado em conjunto com outras organizações para reintroduzir a espécie na caatinga brasileira.
A Operação Guardiões da Ararinha-azul é um passo importante para a preservação e continuidade da espécie.
Volta ao habitat
Doze ararinhas-azuis foram soltas na zona rural de Curaçá, no sertão baiano, habitat natural das aves, em dezembro do ano passado. Antes, em junho do mesmo ano, ocorreu outra soltura de outras aves desta espécie.
Em março de 2020, 52 aves voltaram ao local de origem, oriundas da Alemanha, depois da ararinha spix ter sido considerada extinta na natureza.
Os animais continuam sendo monitorados pelos brigadistas e agentes do ICMBio e biólogos da ACTP. Eles também contam com o apoio de moradores da cidade para pegar informações das ararinhas que foram soltas na natureza.
Da extinção à soltura
Endêmica de Curaçá, a última ararinha-azul foi vista na zona rural da cidade há mais de 20 anos, na companhia de uma fêmea de outra espécie, a arara Maracanã, e depois sumiu.
Até hoje não se sabe ao certo o que aconteceu com a última ararinha-azul vista em Curaçá, no sertão baiano, único lugar de ocorrência da espécie em vida livre.
Os pesquisadores atribuem a extinção da espécie principalmente ao tráfico de animais e à destruição de parte do bioma da Caatinga.
Ambientalistas e pesquisadores trabalham juntos desde 2009 no projeto de reintrodução das ararinhas na natureza. Em 2012, foi criado o Plano de Ação para Conservação da Ararinha-Azul (PAN), que inclui a reintrodução dessa rara ave brasileira no território de origem.
“É um ato simbólico que representa muita coisa. Representa um progresso muito grande de conservação, que a gente acredita que a gente pode recuperar as espécies em extinção e a ararinha-azul ela representa isso. Esse projeto representa o que a gente biólogo e os amantes da natureza fazem em prol da conservação, que a gente faz isso com paixão, isso é o mais gratificante”, disse Eduardo Araújo Barbosa, coordenador do PAN Ararinha-Azul (ICMBio).
O trabalho do plano de ação começou com o rastreamento das últimas ararinhas-azuis que existiam no mundo, todas em cativeiros. A maior parte dela, segundo os pesquisadores, foi encontrada no Catar.
Mais de 100 foram resgatadas e levadas para o viveiro da ONG alemã ACTP, no país europeu. Na instituição, as ararinhas passaram por um processo de reprodução natural e também reprodução artificial, para então alguns exemplares serem trazidos para o Brasil. Hoje, existem pouco mais de 200 ararinhas-azuis no mundo, a maior parte delas na Alemanha.
Depois de um acordo de Cooperação Técnica entre ICMBio, do Ministério do Meio Ambiente (MMA), e a ONG alemã ACTP, mais de 50 ararinhas-azuis foram repatriadas e trazidas para o Brasil em 2020.
Elas foram levadas direto para um centro de reprodução foi construído em uma área isolada na zona rural de Curaçá para receber as ararinhas. No recinto, nasceram filhotes da espécie em março do ano passado.
O acesso ao local é restrito a pesquisadores da ONG alemã ACTP e do ICMBio. No entorno, foi criada a uma Área de Proteção Ambiental (APA) de 90 mil hectares e um Refúgio de Vida Silvestre da ararinha-azul, com 30 mil hectares.
Curiosidades
– A Ararinha-Azul é a menor das araras (em comparação com a Arara-Azul grande e a Arara-Azul-de-Lear), tem apenas 55 cm e pesa, em média, 350g;
– O nome científico Spixi dá uma pista da cor das penas dessa ave, que tem um azul mais claro, quase acinzentado;
– As ararinhas-azuis podem viver por 30 anos. Elas entram em fase de reprodução aos 4 e só param aos 24;
– As ararinhas são bastante barulhentas, principalmente quando ficam assustadas. As que foram soltas em Curaçá, como estavam em um cativeiro, não são muito “amigas” do homem;
– Elas gostam de viver em grupo, principalmente fora do período de reprodução.
– As ararinhas costumam se alimentar no início da manhã e no final da tarde;
– Elas têm 14 itens alimentares, gostam muito de sementes, principalmente do pinhão e fruto de favela;
– Os predadores das ararinhas são os saruês, morcegos, abelhas europeias, africanizadas, serpentes e aves de rapina, como o gavião;
– As ararinhas acasalam no período reprodutivo, produzem os ovos. Em seguida, tem a incubação, que ocorre em média durante 26 dias. Os filhotes levam aproximadamente 90 dias para sair do ninho;
– O período reprodutivo das ararinhas-azuis acontece normalmente entre novembro e maio, quando Curaçá registra chuva;
– As ararinhas-azuis tem um comportamento afetuoso e de proteção com os filhotes, enquanto eles estão nos ovos. A fêmea incuba os ovos durante a maior parte do tempo e o macho fica próximo ao ninho, de olho na família;
– Os filhotes são incentivados pelos pais a caçar o próprio alimento. Com a chegada da maturidade, se tornam ainda mais independentes. As ararinhas querem que os filhos aprendam logo a deixar o ninho, porque enquanto estão no local, é o momento que eles mais sofrem riscos de predações;
– As ararinhas-azuis podem viver por 30 anos. Elas entram em fase de reprodução aos 4 e só param aos 24;
– As ararinhas são bastante barulhentas, principalmente quando ficam assustadas. As que foram soltas em Curaçá, como estavam em um cativeiro, não são muito “amigas” do homem;
– Elas gostam de viver em grupo, principalmente fora do período de reprodução.
g1 | Foto: Divulgação/ACTP