Até 2040, de acordo com dados do IPEA, cerca de 56% da força de trabalho no Brasil será composta por pessoas acima da faixa etária
O envelhecimento natural da população tem impulsionado a transformação do mercado de trabalho no Brasil. Com essa mudança no perfil populacional, algumas empresas começaram a desenvolver ações de inclusão para profissionais com mais de 50 anos. O desafio é combater o preconceito e diversificar as equipes, seguindo também a tendência dos valores corporativos atuais.
De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), até 2040, cerca de 56% da força de trabalho no Brasil será composta por pessoas com mais de 45 anos. Ainda seguindo essa linha, o último censo demográfico do IBGE, em 2022, revelou que o total de pessoas com 65 anos ou mais no país era de 22.169.101, representando 10,9% da população. Quando comparado a 2010, houve alta de 57,4%. Na época, essa população ainda era de 14.081.477, ou seja, 7,4% dos brasileiros.
Diante desse cenário de mudança, ainda é recorrente no Brasil o etarismo, que reflete o preconceito e a discriminação, que envolvem questões relacionadas à idade, como forma de diminuir alguém, principalmente no âmbito profissional. Nesse caso, é necessário que algumas iniciativas sejam realizadas pelas organizações e empresas, visando a atualização do mercado de trabalho.
Para Cleyson Monteiro, psicólogo, consultor de carreiras e headhunter, as pessoas com mais de 50 anos têm um diferencial para o mercado de trabalho, com base em suas experiências. “São pessoas que apresentam um registro de memória e uma experiência que pode ser muito eficiente e influenciar no desenvolvimento de técnicas e de metodologias que muitos profissionais inexperientes não possuem”, aponta.
O Grupo Trino é uma das empresas com iniciativas focadas nestes profissionais. Em 2021, a empresa criou o Comitê de Diversidade e Inclusão. O projeto é voltado à contratação, inclusão e manutenção de pessoas com mais de 50 anos de idade em seu quadro de pessoal. Além disso, também foram elaboradas medidas para a não discriminação por idade como a não utilização deste requisito como critério para o processo seletivo.
Cláudia Dowsley, diretora de Capital Humano do Grupo Trino (Foto: Divulgação) |
“Sempre escolhemos no mercado de trabalho as pessoas mais capacitadas e que colaborem mais em grupo. Para isto, garantimos a manutenção do quadro de pessoas 50+ através de iniciativas de engajamento do time em torno de nosso propósito de adesão a um comportamento de escuta aberto e intencional, além de trilhas de treinamento e desenvolvimento”, afirma Cláudia Dowsley, diretora de Capital Humano do Grupo Trino.
Além de beneficiar as pessoas com mais de 50 anos, essa valorização da experiência e da maturidade impulsiona o crescimento e a competitividade das empresas. Dentro desssa realidade está o Grupo Parvi. Em 2022, a empresa criou cards e publicações específicas com o chamamento destes profissionais. Hoje, já são mais de 90 pessoas do grupo com mais de 50 anos atuando em variadas funções. O grupo também oferece oportunidades para quem deseja continuar inovando em suas carreiras, seja através de graduações, só possíveis nesta fase da vida ou pela possibilidade de mudança profissional após a aposentadoria.
Clívia Costa, diretora de RH do Grupo Parvi (Foto: Divulgação) |
“Não existe uma cota, apenas a exigência do preenchimento dos requisitos técnicos e comportamentais. Fazemos um processo seletivo absolutamente permeável para qualquer pessoa de acordo com as suas competências. A mescla de gerações dá muito certo. No início percebemos certa resistência dos mais jovens, mas isso muda quando eles percebem na prática os resultados positivos, que são muitos. Nosso objetivo é aumentar essa participação”, avalia Clívia Costa, diretora de RH do Grupo Parvi.
Comprometimento
O fundador e CEO da Maturi, Mórris Litvak, empresa especializada no treinamento, consultoria, recrutamento e seleção de profissionais 50 , observa um movimento mais estratégico por parte das empresas para a contratação de trabalhadores mais maduros. Esse interesse crescente, segundo o executivo, pode ser atribuído a fatores como a busca por conhecimento e experiência, especialmente em cenários que exigem tomada de decisão estratégica, e o reconhecimento pelas empresas da importância da diversidade etária para a inovação e para a criação de um ambiente de trabalho mais inclusivo e representativo.
O especialista lembra que esse público tende a demonstrar maior lealdade e compromisso para com suas empresas, o que reduz os custos associados à recontratação e treinamento, além da resolução de problemas através de combinação de diferentes gerações no local de trabalho. “Há evidências de uma maior conscientização sobre o etarismo e da necessidade de políticas de trabalho mais flexíveis e adaptativas. As empresas que se destacam nesses aspectos são vistas não só como socialmente responsáveis, mas também como mais atrativas para investidores e parceiros que valorizam a sustentabilidade e a responsabilidade social corporativa”, atesta Litvak. (Diário de Pernamnuco)