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Vale do São Francisco se destaca em produção de frutas dentro e fora do país

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Com projetos de irrigação para o clima semiárido, o Vale do São Francisco produz frutas o ano inteiro para exportação. Petrolina e Juazeiro são centros de destaque

 Suemi Koshyama com uma caixa de suas mangas que ser..o enviadas .. Coreia - (crédito: Bruna Pauxis)
Suemi Koshyama com uma caixa de suas mangas que ser..o enviadas .. Coreia – (crédito: Bruna Pauxis)

Petrolina (PE) — É do Vale do São Francisco que brota quase a totalidade da exportação brasileira de uvas de mesa para o mundo. O solo árido da caatinga é responsável por um importante nicho do agronegócio. Graças a projetos de irrigação e qualificação de agricultores desenvolvidos ao longo de décadas, essa região tem características que põem por terra a ideia de que as parreiras só dão fruto em terrenos de clima ameno. Pelo contrário, o calor ardente do sertão é sinônimo de riqueza.

“Esse Sol forte é o que deixaa fruta mais doce, desenvolve o Brix, que mede o grau de doçurada fruta. Aqui temos essa claridade o tempo inteiro, e irrigando o solo, produzimos as melhores frutas”, conta Fernando Galarza, gerente operacional da Zanlorenzi Bebidas, em Petrolina

A fábrica é um dos diversos empreendimentos que trabalham na produção de vinhos, sucos e base de espumante a partir das frutas cultivadas no sertão. “Enquanto no Sul temos uma colheita por ano, por contado clima, aqui temos três ou quatro, porque o Sol é sempre presente”, comparou Galarza. A empresa Campo Largo, que está crescendo, produz apenas uma pequena parte de suas frutas. A maior quantidade é comprada de produtores, como Edmilson Alves, de 56 anos. Dono de uma propriedade em Senador Nilo Coelho, em Petrolina, o agricultor dá continuidade a um trabalho de gerações.

“Comecei a cultivar com meu pai. Tenho essa propriedade há 30 anos, plantando ecolhendo uvas. Meu pai plantou o primeiro hectare, que depois passei a cuidar. Dos meus filhos, um cursou agronomia e deve assumir a plantação”, relata. A paixão familiar pelo cultivo étraço da agricultura. Do outro lado da ponte Presidente Dutra, que divide Juazeiro e Petrolina, a Fazenda Special Fruit, criada por Suemi Koshiyama, de 72 anos, é também próspera com a família.

Nascido no Japão, Suemi chegou ao Brasil em 1959, aos cinco anos. Em 1983, ele veio para o sertão pernambucano com a esposa Vanda, os três filhos e um sonho: produzir uva. “Eu acreditava que poderíamos prosperar aqui, era um tiro no escuro, mas deu certo”, conta Suemi.

FRUTICULTURA NO VALE DO SÃO FRANCISCO - EMPREGO E RENDA

Passados mais de 40 anos desse período desbravador, o nome de Suemi está estampado em milhões de caixas de frutas no Brasil, Europa, Coreia e Japão. A empresa exporta 24 milhões de quilos de frutas por ano e é responsável pela maior parte das mangas que o Brasil oferece para o mundo. “São clientes de décadas. É uma relação de confiança muito difícil deser construída e muito fácil de ser perdida”, conta o produtor.

Irrigação

A agricultura no Vale do São Francisco passou a crescer, principalmente, com os projetos de irrigação na região. Impulsionadas pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), empresa pública vinculada ao Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), foram plantados 39 perímetros de irrigação, com 125 milhectares de área cultivada. A área é equivalente a 175 mil campos de futebol, a maior parte em Pernambuco e na Bahia.

A estatal organiza o espaço por meio de cooperativas ligadas à Codevasf, que atuam nos chamados Distritos de Irrigação. Eles funcionam como a administração de um condomínio e gerenciam a área irrigada a dividindo por cada lote de terra, realizando melhorias no local, além de oferecer segurança e patrulha.

“Os distritos de irrigação transformam a economia local. Um pequeno produtor passa a ter uma renda maior, porque o segredo do projeto de irrigação é segurança hídrica. Ela é que garante produtividade maior e mais segura e, consequentemente, um aumento da renda. A qualidade da fruta também é controlada, o que faz ela poder ser exportada e agrega maior valor do produto”, explica a diretora de irrigação da Codevasf, Alessandra Cristina Rossin.

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Para ela, as melhores condições de renda do produtor impactam toda a região. “A gente desenvolve uma série de cadeias na economia local, tanto no setor de hotelaria quanto em tecnologia e pesquisa. A gente tem parcerias com duas universidades federais e com a Embrapa. Além disso, o comércio é bem robusto, nós temos excelentes restaurantes”, completa aexecutiva da Codevasf.

Presentes na região desde 1985, os projetos de irrigação são responsáveis por cerca de 356 mil empregos diretos indiretos ou induzidos. Os principais cultivos são de uva, manga e banana. Dos 39 projetos de irrigação da Codevasf, 25 são financeiramente independentes. O abastecimento de água é custeado pelos próprios produtores rurais em associações privadas. De acordo com o presidenteda Codevasf, Marcelo Moreira, a estatal deve, nos próximos anos, dobrar a área administrada.

“Começamos a trabalhar no São Francisco há exatamente 50 anos, junto com a nossa fundação. A Codevasf plantou aquela semente que gerou oportunidade para as pessoas. Petrolina, hoje, tem o IDH próximo ao da capital, Recife, e Juazeiro já tem o IDH próximo ao de Salvador. Tudo isso é fruto do desenvolvimento trazido pela irrigação, então é muito gratificante estar aqui constatando todo o sucesso que esses projetos geraram para o desenvolvimento regional”, afirma Moreira.

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Segundo o presidente da estatal, os projetos permitem que pequenos agricultores tenha ganhos cada vez maiores e não sejam ofuscados por grandes produtores.

“Temos as áreas destinadas, especialmente, aos pequenos produtores. Incentivamos esse público a trabalhar em em associações e cooperativas, para que possam competir comos grandes produtores ou trabalharjunto a eles. É tudo um trabalho coletivo. Então, eles todos juntos formam o melhor conjunto para poder gerar o desenvolvimento e gerar empregos”, conta Marcelo Moreira.

A riqueza do Vale do São Francisco lembra os versos de Geraldo Azevedo, artista natural de Petrolina. É a comprovação de queo “Velho Chico” é repleto de possibilidades. “Muitos peixes, tantas vidas, das águas daquele rio podem se multiplicar. Além disso, quero mais: que as margens tenham de novo, suas matas originais”, canta o músico.

*A repórter viajou a convite da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf)

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Publicado no ´Correio Brasiliense´ neste domingo(06.04.2025)