Uma dessas surpresas aconteceu em São Paulo, com Preta Gil cantando com você, o que emocionou o Brasil. Por favor, fale um pouco dessa alegria de ver Preta ao seu lado num momento tão representativo…
Preta é uma menina muito extrovertida, muito aberta, alegre, cheia de energia… E escolheu, logo muito cedo, bem menina ainda, escolheu, por força do ambiente em que vivia, com uma carga de presença musical muito grande… Da tia, dos tios, dos parentes, da madrinha e da casa cheia de música o tempo todo… Ela escolheu a carreira de cantora. Firmou-se. Criou um gosto grande pela diversidade, pelo ecletismo, pela coisa de juntar vários modos de expressão, de canto, de gêneros musicais, e tudo mais. Ela é essa personalidade, muito expressiva. E tem demonstrado nesse momento da doença (Preta está em tratamento nos Estados Unidos contra um câncer), uma grandeza de alma, de modo de compreender a existência, que é exemplar. E tem recebido uma resposta muito grande. É imenso o carinho, o acolhimento que ela vem recebendo no Brasil inteiro, vindo de todas as gerações. São manifestações muito eloquentes o tempo todo na torcida por ela. Isso também vai para a conta dela (risos).
Como ficará sua carreira depois de as luzes do palco se apagarem? O que Gil vai fazer? Vai curtir o sítio no interior do Rio? Escrever canções todo o dia de manhã, como se fossem preces… Continuará lançando discos?
Acho que essa coisa do cultivo doméstico da música, com meu violão, com a escuta das gravações, dos discos… Tudo isso vai continuar. É um hábito. Uma coisa entranhada no meu modo de ser. Vou continuar muito ligado à música, mesmo em casa. E isso vai ensejar para que eu continue promovendo encontros com o público, em escalas menores, como novos discos também. Na medida em que eu continue gostando de compor, coletar canções com as quais eu me dou cotidianamente, vou continuar sendo o que sou, o que tenho sido.
Olhando para trás, qual “Gil”, deste múltiplo artista musical que você é, mais te representou, aquele dos festivais, o da Tropicália, dos Doces Bárbaros, do Kaya N’Gan Daya, entre tantos?
Eu gosto de todos eles (risos). Essa variedade de gostos e abordagens. O fato de eu gostar de muitos gêneros musicais, de gostar da mistura deles, de eu ter uma atenção intensa para com artistas do mundo todo… O apreço especial que tenho pela música negra de todos os lugares, das Américas, da África… Tudo isso é um mosaico da minha personalidade artística.
Por falar em Kaya N’Gan Daya, o seu parceiro na produção do disco foi Tom Capone, uma cria brasiliense. Como foi que vocês se conheceram?
Foi muito interessante. Ele foi um dos produtores mais atentos à qualidade do reggae, tanto na sua versão originária da Jamaica, como pelo seu espalhamento ao redor do mundo. O reggae se tornou um gênero mundial e importante. Naquele momento, para realizar o Kaya N’Gan Daya, ele veio com essa carga toda de significado, de experiência, de adesão a esse gênero e fez um trabalho interessantíssimo. Nós fomos para a Jamaica, passamos lá um bom tempo. Gravamos com figuras extraordinárias do mundo do reggae. No Rio também, trabalhamos no estúdio interessante que ele tinha montado. O disco repercutiu muito no mundo inteiro. Foi uma homenagem que teve muito cabimento, com uma receptividade festejada até hoje. Em todos os lugares que vou, no Japão, na Europa, por exemplo, o disco é muito festejado e tem, evidentemente, tudo a ver com o Tom Capone. Ele foi um dos realizadores desse disco, junto comigo.
A música popular brasileira, que você representa, está acabando hoje em dia? A nova música brasileira é filha da MPB ou ela surgiu de outro caminho? A MPB continua forte neste caldeirão musical do país?
Agora mesmo estava almoçando num restaurante (no Rio) e na trilha sonora da música ambiental que tocava ali tinha Rita Lee, Caetano Veloso, os artistas da minha geração, mas tinha também o pessoal de agora, como Anitta, tinha a, b, c… Então, a música comercial, que foi difundida primeiramente por meio dos discos e do rádio, depois da televisão e agora pelos meios eletrônicos mais modernos, redes sociais e tudo mais… Tudo agora é um híbrido mesmo, uma mistura muito grande de tudo. Acho que o rótulo de MPB resiste, se sustenta, porque tudo isso é música popular brasileira.
O que é a velhice para você? Esse “tempo rei”?
Primeiro, de muita gratidão, pelo fato de a vida ter me trazido até aqui. Vou fazer 83 anos de idade, e isso já não é uma idade-limite — nós temos estendido essa longevidade (risos) — mas é uma idade considerável e tem as implicações naturais do modo de como as energias são processadas. A velhice tem seu capricho, seu modo de ser. Acho que o tempo rei, significa, pessoalmente, uma adoção natural da condição do homem velho, do ancião, e do jovem que permanece nele, de tudo isso que me trouxe até aqui (risos). Foi a juventude que me trouxe até aqui. Tenho gratidão.
Em entrevista exclusiva ao Correio, Gilberto Gil fala sobre a última grande turnê Tempo Rei, do show que fará em Brasília, em 7 de junho, e sobre a velhice. “Ela tem seu capricho, seu modo de ser. Acho que o tempo rei significa uma adoção natural da condição do homem velho”
Tem alguma surpresa para Brasília, nesse show?
Talvez… Acho que sim… Talvez tenha (risos). Temos tido, em vários lugares que apresentamos, uma surpresa. Possivelmente, em Brasília também.
Uma dessas surpresas aconteceu em São Paulo, com Preta Gil cantando com você, o que emocionou o Brasil. Por favor, fale um pouco dessa alegria de ver Preta ao seu lado num momento tão representativo…
Preta é uma menina muito extrovertida, muito aberta, alegre, cheia de energia… E escolheu, logo muito cedo, bem menina ainda, escolheu, por força do ambiente em que vivia, com uma carga de presença musical muito grande… Da tia, dos tios, dos parentes, da madrinha e da casa cheia de música o tempo todo… Ela escolheu a carreira de cantora. Firmou-se. Criou um gosto grande pela diversidade, pelo ecletismo, pela coisa de juntar vários modos de expressão, de canto, de gêneros musicais, e tudo mais. Ela é essa personalidade, muito expressiva. E tem demonstrado nesse momento da doença (Preta está em tratamento nos Estados Unidos contra um câncer), uma grandeza de alma, de modo de compreender a existência, que é exemplar. E tem recebido uma resposta muito grande. É imenso o carinho, o acolhimento que ela vem recebendo no Brasil inteiro, vindo de todas as gerações. São manifestações muito eloquentes o tempo todo na torcida por ela. Isso também vai para a conta dela (risos).
Como ficará sua carreira depois de as luzes do palco se apagarem? O que Gil vai fazer? Vai curtir o sítio no interior do Rio? Escrever canções todo o dia de manhã, como se fossem preces… Continuará lançando discos?
Acho que essa coisa do cultivo doméstico da música, com meu violão, com a escuta das gravações, dos discos… Tudo isso vai continuar. É um hábito. Uma coisa entranhada no meu modo de ser. Vou continuar muito ligado à música, mesmo em casa. E isso vai ensejar para que eu continue promovendo encontros com o público, em escalas menores, como novos discos também. Na medida em que eu continue gostando de compor, coletar canções com as quais eu me dou cotidianamente, vou continuar sendo o que sou, o que tenho sido.
Olhando para trás, qual “Gil”, deste múltiplo artista musical que você é, mais te representou, aquele dos festivais, o da Tropicália, dos Doces Bárbaros, do Kaya N’Gan Daya, entre tantos?
Eu gosto de todos eles (risos). Essa variedade de gostos e abordagens. O fato de eu gostar de muitos gêneros musicais, de gostar da mistura deles, de eu ter uma atenção intensa para com artistas do mundo todo… O apreço especial que tenho pela música negra de todos os lugares, das Américas, da África… Tudo isso é um mosaico da minha personalidade artística.
Por falar em Kaya N’Gan Daya, o seu parceiro na produção do disco foi Tom Capone, uma cria brasiliense. Como foi que vocês se conheceram?
Foi muito interessante. Ele foi um dos produtores mais atentos à qualidade do reggae, tanto na sua versão originária da Jamaica, como pelo seu espalhamento ao redor do mundo. O reggae se tornou um gênero mundial e importante. Naquele momento, para realizar o Kaya N’Gan Daya, ele veio com essa carga toda de significado, de experiência, de adesão a esse gênero e fez um trabalho interessantíssimo. Nós fomos para a Jamaica, passamos lá um bom tempo. Gravamos com figuras extraordinárias do mundo do reggae. No Rio também, trabalhamos no estúdio interessante que ele tinha montado. O disco repercutiu muito no mundo inteiro. Foi uma homenagem que teve muito cabimento, com uma receptividade festejada até hoje. Em todos os lugares que vou, no Japão, na Europa, por exemplo, o disco é muito festejado e tem, evidentemente, tudo a ver com o Tom Capone. Ele foi um dos realizadores desse disco, junto comigo.
A música popular brasileira, que você representa, está acabando hoje em dia? A nova música brasileira é filha da MPB ou ela surgiu de outro caminho? A MPB continua forte neste caldeirão musical do país?
Agora mesmo estava almoçando num restaurante (no Rio) e na trilha sonora da música ambiental que tocava ali tinha Rita Lee, Caetano Veloso, os artistas da minha geração, mas tinha também o pessoal de agora, como Anitta, tinha a, b, c… Então, a música comercial, que foi difundida primeiramente por meio dos discos e do rádio, depois da televisão e agora pelos meios eletrônicos mais modernos, redes sociais e tudo mais… Tudo agora é um híbrido mesmo, uma mistura muito grande de tudo. Acho que o rótulo de MPB resiste, se sustenta, porque tudo isso é música popular brasileira.
O que é a velhice para você? Esse “tempo rei”?
Primeiro, de muita gratidão, pelo fato de a vida ter me trazido até aqui. Vou fazer 83 anos de idade, e isso já não é uma idade-limite — nós temos estendido essa longevidade (risos) — mas é uma idade considerável e tem as implicações naturais do modo de copessoalmente, uma adoção natural da condição do homem velho, do ancião, e do jovem que permanece nele, de tudo isso que me trouxe até aqui (risos). Foi a juventude que me trouxe até aqui. Tenho gratidão.mo as energias são processadas. A velhice tem seu capricho, seu modo de ser. Acho que o tempo rei, significa,