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Trump suspende programas de ajuda federal; juiz bloqueia decisão

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Donald Trump ordena o congelamento de subsídios, empréstimos federais e programas de assistência à população carente e às ONGs. Juiz de Washington bloqueia temporariamente a medida, que poderia impactar milhões de norte-americanos
Ativistas protestam contra o plano de Trump de suspender o repasse a programas assistencialistas do governo federal, em Washington - (crédito: Anna Moneymaker/Getty Images/AFP)

A Casa Branca até tentou se explicar o teor do memorando interno divulgado pelo Escritório de Gestão e Orçamento, que instruiu as agências do governo federal a “interromperem temporariamente” o desembolso de fundos de subsídios e empréstimos federais, muitos deles utilizados em programas de assistência à população. A ordem ameaçava suspender o repasse de centenas de bilhões de dólares a governos locais e a setores da educação, além da concessão de pequenos empréstimos para empresas. O memorando explicava que “a pausa temporária dará tempo ao governo para revisar os programas e determinar o melhor uso dos fundos para as iniciativas que sejam consistentes com a lei e as prioridades do Presidente”.

Pouco antes de a medida começar a vigorar, às 19h de ontem (hora de Brasília), Donald Trump sofreu novo revés na Justiça: um juiz do Distrito de Columbia bloqueou o congelamento de gastos de ajuda federal, pelo menos até a próxima segunda-feira. Também no início da noite, o republicano assinou uma ordem executiva em que proíbe a transição de gênero para menores de 19 anos.

Apesar de o governo Donald Trump ter excluído da decisão o Medicaid, programa de atendimento à saúde para cidadãos de baixo poder aquisitivo, estados denunciaram que perderam o acesso aos portais de pagamentos federais. O memorando de 52 páginas do Escritório de Gestão e Orçamento determinava às agências federais que respondessem a várias perguntas sobre os programas afetados, inclusive se eles direcionam financiamento relacionado a imigrantes não documentados, política climática, programas de diversidade e aborto.

A interrupção dos subsídios poderia impactar milhões de americanos. Organizações não-governamentais e a Associação Americana de Saúde Pública entraram com uma ação na Corte Federal, em que pedem a suspensão da medida. “O memorando não explica a fonte da suposta autoridade legal (do Escritório de Gestão e Orçamento) para destruir todos os programas do governo federal”, afirma o processo.

“Facada no coração”

Procuradores-gerais de 22 dos 50 estados dos EUA pretendiam apelar à Justiça contra a suspensão dos gastos federais, sob a alegação de “ilegalidade em tantos níveis diferentes”. No Congresso, a ala do Partido Democrata (oposição) demonstrou preocupação com a decisão de Trump. “É uma facada no coração das famílias americanas”, reagiu Chuck Schumer, líder democrata no Senado, ao acrescentar que a medida é “ilegal” e “inconstitucional”. “O presidente não tem autoridade para ignorar a lei e vamos lutar contra isso de todas as formas possíveis”, prometeu.

Chuck Schumer (C), líder democrata no Senado, denuncia uma "facada no coração das famílias americanas"
Chuck Schumer (C), líder democrata no Senado, denuncia uma “facada no coração das famílias americanas”(foto: Anna Moneymaker/Getty Images/AFP)

A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, declarou que “esta não é uma pausa geral nos programas de assistência e nos subsídios federais”. “Se eles sentirem que os programas são necessários e estão alinhados à agenda presidencial, então, o Escritório de Gestão e Orçamento revisará essas políticas”, comentou. Segundo Leavitt, “a assistência que vai diretamente aos indivíduos não será afetada”. Ela classificou a suspensão como “uma medida muito responsável”. Autoridades dos setores de transporte e infraestrutura cobraram esclarecimentos sobre o congelamento de repasses.

Em entrevista ao Correio, Simon Johnson — professor de empreendedorismo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e laureado com o Prêmio Nobel de Economia em 2024 — admitiu que os impactos do memorando ainda não estavam claros. “Vimos apenas uma paralisação temporária. Sob a Constituição, o Congresso controla os gastos, não o presidente. Haverá difíceis discussões pela frente”, previu. “Não se sabe exatamente quem será afetado e quais serão as exceções. O documento detalhando a política foi mal redigido. Espero que os padrões profissionais de formulação de políticas e os anúncios feitos por este governo melhorem.” 

Professor de gestão pública da Universidade de Harvard, Steven Kelman afirmou ao Correio que o memorando interno não se aplicaria aos maiores programas de benefícios do governo para pensões da Previdência e assistência média a idosos, ou à “assistência fornecida diretamente a indivíduos”. “Não ficou realmente claro o escopo da decisão. Ela se aplicaria ao programa Headstart (‘Vantagem inicial’), financiado com fundos federais para a educação pré-escolar? Ou ao programa Meals on wheels (‘Refeições sobre rodas’), que distribui comida para aquelas pessoas confinadas em suas casas?”, questionou.

EU ACHO…

Simon Johnson, professor de empreendedorismo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e ganhador do Nobel de Economia de 2024
Simon Johnson, professor de empreendedorismo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e ganhador do Nobel de Economia de 2024(foto: Arquivo pessoal )

“Há riscos claros de que muita incerteza, durante o governo Trump, desestimule o investimento e talvez até mesmo os gastos do consumidor. Os Estados Unidos têm uma economia grande, resiliente e diversificada. Resta saber se algum desses momentos que ganharam as manchetes pode minar a dinâmica de crescimento positivo mais profunda,  estabelecida desde o fim da pandemia de covid-19.”

Simon Johnson, professor de empreendedorismo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e laureado com o Prêmio Nobel de Economia em 2024