Proposta foi anunciada nesta quarta-feira(15) após pressão de mediadores por uma trégua antes da posse de Trump nos EUA
Após diversas tentativas frustradas, um cessar-fogo entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza foi finalmente alcançado nesta quarta-feira. O anúncio ocorre em meio à pressão de mediadores árabes e americanos por um acordo para interromper os combates no enclave e libertar os reféns mantidos pelo grupo palestino antes que o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, tome posse em 20 de janeiro. O republicano vinha advertindo que os dois lados “pagarão caro” se os reféns não forem libertados dentro do prazo, sem, contudo, detalhar a ameaça.
Contexto: Netanyahu envia delegação ao Catar para negociar cessar-fogo, e Exército de Israel autoriza plano de retirada em Gaza, diz jornal
Cessar-fogo em Gaza: Ministro palestino diz que Israel libertará 1,2 mil prisioneiros
Tanto o governo israelense quanto o Hamas e a Jihad Islâmica, grupos palestinos que participaram do atentado terrorista de 7 de outubro de 2023, enviaram negociadores a Doha, no Catar, onde as conversas sobre um acordo voltaram a ganhar força há semanas. Fontes anônimas citadas na imprensa internacional afirmam que cada delegação discutiu as propostas em salas separadas, com a participação de mediadores, incluindo os EUA.
Durante meses, em repetidas rodadas de negociações, as esperanças aumentaram e foram frustradas dias depois, com Israel e o Hamas culpando um ao outro pelo impasse — certo grau de controvérsia sobre o real estado das negociações foi levantado mais cedo, depois que fontes próximas ao Hamas afirmaram que o grupo e a Jihad Islâmica concordaram com o acordo de trégua e troca de reféns e prisioneiros, mas foram desmentidos pelo Gabinete do premier israelense, Benjamin Netanyahu.
Com a aprovação do acordo, o segundo desde o início do conflito, a libertação dos primeiros reféns pode começar já no domingo — antes, seria dado um período de 24 horas a 48 horas para a apresentação de eventuais recursos contra o pacto perante a Suprema Corte. A trégua prevê uma troca inicial de 33 reféns por prisioneiros palestinos e a reabertura da passagem de Rafah para permitir a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza.
A assinatura do acordo traz algum alívio para os palestinos em Gaza, que têm suportado condições miseráveis em campos de refugiados e bombardeios implacáveis por parte de Israel, e para as famílias dos reféns sequestrados em Israel durante o ataque terrorista, que têm sofrido por meses imaginando o destino de seus entes queridos.
Quem faz parte das negociações?
— Os principais mediadores das negociações são o Catar e o Egito, que transmitem mensagens entre Israel e o Hamas. O primeiro-ministro do Catar, o xeque Mohammed bin Abdulrahman bin al-Thani, e o diretor do Serviço Geral de Inteligência do Egito, o major-general Hassan Rashad, são as principais autoridades que representam seus países nas negociações.
— David Barnea, chefe do serviço de inteligência externa de Israel, o Mossad, é um dos principais negociadores do Estado judeu, ao lado de Ronen Bar, chefe da agência de segurança interna israelense, o Shin Bet, e do major-general Nitzan Alon, do Exército israelense. Ophir Falk, assessor de política externa do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, também participou de importantes reuniões relacionadas às negociações.
‘Violação dos direitos humanos e internacional’: Malala denuncia destruição do sistema educacional de Gaza por Israel
— Khalil al-Hayya, uma autoridade sênior do Hamas sediada em Doha, no Catar, é o principal negociador do grupo e tem mantido contato com autoridades do Catar e do Egito sobre os detalhes de um possível acordo.
— Os Estados Unidos tem usado seu poder de influência para incentivar Israel e o Hamas a assinarem um acordo. O diretor da CIA, William Burns, e Brett McGurk, uma autoridade sênior da Casa Branca, cruzaram o Oriente Médio, pressionando por um avanço nas negociações. Steve Witkoff, enviado de Trump para o Oriente Médio, também fez viagens ao Catar e a Israel, reunindo-se com as principais autoridades desses países.
O que eles negociaram?
As autoridades israelenses esperam garantir a libertação de pelo menos alguns dos cerca de 100 reféns mantidos em Gaza desde o ataque terrorista liderado pelo Hamas ao sul de Israel em 7 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra no enclave palestino. Dos cativos que seguem no enclave, 34 foram declarados mortos pelo Exército israelense.
‘Despedaçou nossos corações’: Hamas divulga vídeo de jovem soldado mantida refém em Gaza, e família reage
Os líderes do Hamas querem pôr fim à guerra em Gaza, que enfraqueceu seriamente o braço armado e o governo do grupo, provocou o deslocamento de quase 2 milhões de pessoas (basicamente toda a população de Gaza), e reduziu as cidades a escombros. As autoridades do Hamas também disseram que estão buscando uma retirada israelense completa do enclave, o retorno das pessoas deslocadas que estão no sul para o norte, a entrada de materiais para a reconstrução, e a liberdade dos prisioneiros palestinos.
O texto aprovado inclui a troca de 33 reféns israelenses capturados durante o atentado terrorista de 7 de outubro, em troca de aproximadamente 1 mil prisioneiros palestinos que estão detidos em Israel. A Associated Press informou que a expectativa é de que, até o fim da primeira fase, todas as mulheres, menores e idosos e doentes ou feridos vivos sejam libertados. Mas a CNN também fala que o acordo compreenderá homens com mais de 50 anos (há três com mais de 80 anos) e feridos.
Os 33 reféns estão entre os 94 cativos (israelense e estrangeiros) mantidos em Gaza desde o ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro de 2023 contra Israel, que desencadeou a guerra em andamento. Desse total, 81 são homens e 13 são mulheres, de acordo com o Gabinete de Netanyahu, citado pela CNN. Espera-se também que a trégua inclua a libertação de cinco soldados mulheres ainda na primeira fase do acordo. Cada uma seria trocada por 50 prisioneiros palestinos, dos quais 30 são combatentes condenados à prisão perpétua, informou a Associated Press.
Quais foram os maiores obstáculos?
— Um grande obstáculo para o sucesso das negociações foi a durabilidade de um cessar-fogo. Enquanto o Hamas exigiu um fim abrangente para a guerra, Netanyahu disse que quer um acordo “parcial” que permita a Israel retomar a guerra depois de libertar os reféns.
— Israel exigiu uma linguagem vaga no texto da proposta que deixe espaço para a retomada dos combates em algum momento, de acordo com um palestino familiarizado com o assunto e duas autoridades israelenses. Netanyahu teme que seus parceiros de coalizão de extrema direita possam derrubar seu governo e colocar em risco seu futuro político se ele concordar com um acordo que encerre a guerra em Gaza, observaram analistas.
Destruição: ONU calcula que reconstrução da Faixa de Gaza custará mais de R$ 200 bilhões
— Em uma publicação na rede social X na segunda-feira, o ministro das Finanças israelense, Bezalel Smotrich, descreveu “o acordo emergente” como “uma catástrofe para a segurança nacional” de Israel e declarou que não o apoiaria.
— O Hamas não sugeriu que estaria disposto a ceder em sua exigência de acabar com a guerra. Osama Hamdan, uma autoridade sênior do Hamas, disse em uma reunião na Argélia na semana passada que deve haver “um fim absoluto para a agressão”.
— Outro obstáculo foi o quão longe em Gaza Israel terá permissão de ir para realizar operações militares na primeira fase do acordo. O Estado judeu quer ter a capacidade de se movimentar até 1,5 km dentro de Gaza, disseram os dois oficiais militares israelenses e o palestino familiarizados com o assunto. O Hamas queria que qualquer incursão fosse limitada a 500 metros da fronteira, segundo o palestino. As autoridades israelenses, no entanto, disseram que Israel e o Hamas chegaram a um acordo que permitirá a Israel realizar operações militares na primeira fase até 1 km dentro de Gaza.
(Com The New York Times)