Marcelle Rehem, neurocirurgiã do Hospital Brasília, explicou que o tabagismo e o sedentarismo estão entre as causas da doença, que pode ser combatida por meio da prevenção
O AVC é a principal causa de morte no Brasil, uma média de seis mortes por hora. Como reduzir essa estatística tão preocupante?
A coisa mais importante relacionada ao AVC é a prevenção. Hoje, sabemos que se a gente previne os fatores de risco primários e secundários, há bem menos risco de ter um AVC. Então, aqueles pacientes que fumam, precisam parar de fumar. Os sedentários precisam começar a fazer exercício físico. E, aí, vem o controle da hipertensão arterial, do diabetes e da dislipidemia (aumento do colesterol), por exemplo. Essas são algumas ações que podem diminuir a incidência dessa doença.
Sobre os jovens, alguns estudos mostram, de uma forma geral, um aumento considerável do AVC entre pessoas dessa faixa etária no Brasil. A senhora percebe isso no consultório?
De fato, isso tem sido uma tendência mundial, o aumento do AVC nos pacientes mais jovens. Algumas causas são relacionadas. Uma é a alimentação, que não é mais saudável, que é feita de forma não pensada, com alimentos sempre industrializados, ultraprocessados. O aumento do estresse também acaba incorrendo no aumento do risco de AVC. Ocorreu um aumento significativo do AVC na época da covid 19, com muita alteração arterial e muita trombose venosa em pacientes também. O que aparentemente tem acontecido são essas mudanças no comportamento das pessoas.
Para quem é obeso ou fumante, por exemplo, é tarde para começar o controle?
Nunca é tarde para a gente começar a ter saúde. Quanto mais cedo você para de fumar, mais rápido chega a estar perto do paciente que nunca fumou, dos riscos que aquele paciente tem quando nunca fumou. A cessação do tabagismo tem que, de fato, ser imediata, mas se o paciente está gordinho, se o paciente está sedentário, se a pressão alta está descontrolada, não é tarde, de forma alguma. Procurar o atendimento médico especializado, começar a fazer uso das medicações e a fazer exercícios físicos é mandatório, então, qualquer um pode começar em qualquer momento.
Existe uma idade de risco maior?
Existe. Os pacientes acima dos 50, 60 anos têm mais risco do AVC. Mas é importante lembrar que o AVC, a depender da causa, pode mudar muito de faixa etária. Então, por exemplo, AVCs relacionados a aneurismas rotos (que romperam) podem estar presente em pacientes mais jovens, em mulheres mais do que homens, sendo que o AVC, de uma forma geral é mais comum em homens do que em mulheres. E relacionado à trombose, também mais frequente em mulheres em uso de anticoncepcional, um pouco acima do peso.
Quais os sinais de que pode estar ocorrendo um AVC e qual a importância dessa intervenção o quanto antes?
Esse é um alerta muito importante para a população. O que é que eu faço se eu vi que o meu familiar teve um AVC? Eu espero, mando ele dormir, no outro dia eu vejo? Não. Então, os principais sinais, a primeira coisa, é que o paciente pode ter uma assimetria facial, ou seja, um desvio da rima labial, é o famoso boca torta; o paciente pode ter dificuldade para levantar um lado ou outro do braço ou da perna, ou formigamento em um lado específico do corpo (lado direito ou lado esquerdo); tontura súbita com vômitos; e alteração súbita da visão são alguns sintomas que a gente tem de AVC. (…) O importante é que, dentro das primeiras quatro horas, o paciente chegue ao hospital.
Alguns estudos começam a relacionar o calor a uma maior probabilidade de ocorrência do AVC. Faz sentido?
A gente tem um aumento de AVC quando o paciente tem mais desidratação. Então, é superimportante que as pessoas bebam água. Quanto menos água você bebe, menos hidratado o seu sangue fica e maior a chance de coagulação.(Correio Brasiliense)