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Padre Manoel de Paiva Neto! Reflexão do seu testamento

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Padre Manoel de Paiva Neto

Este é o meu testamento, de próprio punho, feito por mim, de livre e espontânea vontade e em plena lucidez. Por amor ao Senhor Jesus Cristo, aceito a morte, quando, como e onde for da vontade de Deus.

De idade já completei setenta e um (71) anos e quarenta e três(43) de vida sacerdotal.

Rastreando com a imaginação todo o caminho percorrido até hoje e, embora reconhecendo a diferença contrastante entre o que eu devia ter sido e o que realmente sou, mesmo assim, só encontro motivos, e muitos, para agradecer o muito que Deus, generosamente, me concedeu.

É uma graça especial ser Padre e, como Padre, ter convivido com a juventude mais de trinta anos e com enfermos do Hospital D. Malam, quase dez.

A juventude me fez sentir a beleza e os contrastes da vida e os enfermos o mistério profundo do sofrimento humano.

Assim como algumas vezes vi jovens exuberantes de mocidade, carregando o tédio, no despenhadeiro do vício, vi também muitos jovens contagiantes de alegria, demonstrando um testemunho inexcedível de autentica doação e grandiosidade.

Assim como encontrei enfermos revoltados com sofrimento, encontrei também doentes, sorrindo de esperanças, nas marcadas agonia derradeira. Tudo me foram lições. Lições preciosas que me deixaram marcas inapagáveis.

Acho porém que a lição mais valiosa, a mais importante mesmo foi a doença – um distúrbio vascular cerebral – que me abateu em Junho de 1972, deixando-me por quase dois meses, todo o lado esquerdo sem mobilidade.

No inicio da doença, tive a impressão de haver penetrado num longo, frio e sombrio túnel, sem porta de saída. Depois, entretanto, verifiquei com surpresa, que me encontrava num
iluminado e suntuoso salão de festim. E foi aí que meu ângulo de visão se abriu no horizonte de minha vida.

No silêncio de longas horas de uma doença prolongada, fiz reflexões nunca feitas e ouvi falar de um proveito exuberante. Uma reviravolta completa! Desmontaram-se esquemas por inteiro, longamente arquitetados e, de repente, surgem novos polos de atrações
ignoradas.

Foi a doença, posso dizer, que me fez descobrir a riqueza inestimável da oração. Foi a doença que me fez sentir alegrias, até então desconhecidas.

Há experiências na vida que jamais poderão ser expressas nas palavras. Ultrapassam a pobreza semântica de nosso limitado. vocabulário.

Hoje, depois de mais de quatro anos de semi-invalidez, só uma coisa sei dizer: “Louvarei o Senhor porque ele é bom, porque eterna é sua misericórdia”. (Sal. 135-1)

Embora considere a vida maravilhosa, pelas alegrias que o convívio humano nos proporciona, sei e creio que a morte é um nascimento para a plenitude da vida, iluminada pela fé na ressurreição de Jesus Cristo. A morte não me angústia, não me aflige, não me atemoriza.

Não que eu valha alguma coisa. A certeza de que Jesus Cristo me ama, é que me dá tranquilidade. Creio na sua misericórdia de Salvador da Humanidade.

Pedido especial aos meus irmãos:

1 – Que o meu enterro seja simples. Tudo modesto. Apenas façam as exéquias que a Igreja prescreve. A Igreja que amo e sempre servi. Igreja de meu Senhor Jesus Cristo a quem espero ser fiel, com sua graça, até a morte.

2 – Esclareço que até este momento não tenho dívida, a não ser de muita gratidão a inúmeras pessoas, pelo muito de favores e finezas que me dispensaram ao longo de minha vida.

3 – Sendo possível, não demonstrem tristeza, choro descontrolado, lamentações. A morte é um nascer de vida nova. Não é um pôr do sol, mas uma aurora que surge, iluminada com os clarões da ressurreição. Uma porta que se abre para a . plenitude da vida.

Colaboração do seu sobrinho Chico Tim