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Pesquisadora aponta que 99% da produção exportada de uva de mesa no Brasil é produzida no Semiárido

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Ao imaginar uma produção de uva e vinho, visualizamos parreiras em lugares com climas mais amenos, como no sul do Brasil e em regiões da Itália. Mas esse imaginário vem sendo rompido há alguns anos com a exemplar produção da viticultura no Vale do Rio São Francisco, em meio ao Sertão e ao clima Semiárido. Nos supermercados brasileiros está cada vez mais comum encontrar vinhos, sucos de uva e o fruto in natura produzidos em meio à Caatinga.

A pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Semiárido, Patrícia Coelho de Souza Leão, relembra que a cultura da uva na região teve início ainda na década de 1960, em iniciativas já comerciais, como a da empresa Cinzano, na produção de conhaque, em Petrolândia (PE). A cultura depois se espalhou para Petrolina e região, muitas vezes apoiada por iniciativas da Igreja Católica, que instalou uma coleção de variedades de uva por lá.

Confira reportagem na integra o eco nordeste.

No início da década de 1970 já existiam ações de fomento à cultura por parte da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). Com a criação da Embrapa Semiárido, em 1973, se deu a largada em projetos de pesquisa voltadas à viticultura. A produção em nível industrial foi alavancada na década de 1990, com avanços em escala de produção e tecnologias. Um marco nessa trajetória foi quando, em meados dos anos 2000, foram desenvolvidas variedades sem sementes, que caíram nas graças dos consumidores, em um caminho sem volta. Foi aí, com o avanço das tecnologias de produção, que o consumidor brasileiro passou a substituir a importação de uvas chilenas, pelo consumo das que são cultivadas no Nordeste brasileiro.

E o que torna o Vale do São Francisco uma região tão favorável à viticultura? O clima com temperaturas quentes, com poucas oscilações ao longo do ano. Isso permite que a videira possa produzir o ano inteiro e não passe pelo processo de produzir em meados da primavera para colher no verão, como ocorre em regiões mais frias. Além da grande disponibilidade de água ofertada pelo Rio São Francisco, necessária para a irrigação; do desenvolvimento de cultivares mais adaptáveis a essas condições; e da adoção de manejos e tecnologias adequadas para esse plantio.

“Aqui a uva pode ser produzida em qualquer mês do ano. Imagina a vantagem comercial disso! Enorme! O produtor pode planejar isso pensando tanto em uva de vinho, quanto em uva de mesa. Pode-se planejar a época mais favorável para colher a uva visando as questões da qualidade das composições químicas específicas para cada produto”, destaca Patrícia Coelho de Souza Leão, pesquisadora da Embrapa Semiárido.

Apesar da fama que os vinhos da região vêm conquistando, o carro-chefe da produção da viticultura do Vale do São Francisco é a uva de mesa. As variedades desenvolvidas pela Embrapa como a BRS Isis, BRS Núbia e BRS Vitória são algumas dessas cultivares mais consumidas pelo público. A demanda pelo fruto in natura é que dá o peso socioeconômico e que gera empregos na viticultura na região.

Patrícia Leão aponta que 99% da produção exportada de uva de mesa no Brasil é produzida no Semiárido. “Contudo, a exportação não é o nosso principal mercado. Nós exportamos sim, mas, se comparado, o volume que vendemos no mercado interno é muito maior. Estamos deixando de importar uva para consumir a nossa própria produção.”

Dados de produção-Segundo dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022, a área plantada no Brasil foi de aproximadamente 29,6 mil hectares (ha). As três regiões que concentram a produção nacional são a Nordeste, com 11,9 mil ha plantados; a Sudeste, com 9,9 mil ha; e a Sul, com 7,4 mil ha. A pesquisa revela também que o Vale do São Francisco mantém o crescimento de área, saindo de 8,5 mil ha em 2013 para 11,1 mil ha em 2022, resultando em um aumento de 30,58%.

Dentre as cidades com maior produção na região destacam-se Petrolina (PE), com 6,45 mil ha; Lagoa Grande (PE), com 1,85 mil ha; e Juazeiro (BA), com 1,64 mil ha. Em termos de volumes, em 2022, o Brasil colheu cerca de 715,8 mil toneladas (t), com o Nordeste produzindo aproximadamente 58% de todo este volume.

Com relação à produtividade, em 2022, a média da região Nordeste (35 t/ha) é maior do que a média nacional (24 t/ha). De acordo com a Embrapa, a uva gerou mais de 3,3 bilhões de reais em valor da produção no Brasil, em 2022, sendo que aproximadamente dois terços deste total, 2 bilhões de reais, foram originado no Vale do São Francisco.

(Uma publicação da  Eco Nordeste – que é uma agência de conteúdo diversificado sobre Sustentabilidade, considerando o tripé ambiental, social e econômico.)