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É hora de celebrar o Brasil!

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Sobre jovens cultos, cultura e Brasil | by Nathan Gonçalves | Pirata Cultural | Medium

Danielle Nigromonte

Cem anos separam este fevereiro do mesmo mês que ocorreu a Semana de Arte Moderna no Theatro Municipal de São Paulo. Ao longo de décadas o evento modernista – que claramente, como muitos já discutiram, teve um antes e um depois – viveu uma montanha russa. Ora exaltado por acadêmicos e artistas, outras rechaçado. Oswald de Andrade mesmo, modernista inveterado e um dos expoentes do movimento, ao fim da vida, segundo contou sua filha, Marília de Andrade, se viu triste, marginalizado, por não ter sua obra reconhecida.

Mas o fator tempo fez justiça não só a ele como aos seus amigos de bares, literatura e artes. Chegamos ao centenário da efeméride com as ideias modernistas cada vez mais atuais, principalmente na intenção de exaltar a arte brasileira. Com essa premissa em foco, em setembro passado lançamos a Agenda Tarsila, plataforma que tem como objetivo democratizar o acesso à arte, em especial em um momento de pandemia, promovendo uma difusão de conhecimento e cultura com as novas gerações.

Nela, que já conta com quase 500 atividades cadastradas, a maioria gratuitas e muitas em formato on-line, disponibilizamos também vídeos, entrevistas com especialistas e familiares de modernistas, curiosidades e uma linha do tempo que contempla toda a história do movimento. A iniciativa, que será mantida no ar como registro histórico mesmo quando finalizarem as atividades – previsão de dezembro deste ano -, foi criada pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo e é gerida e organizada pela Organização Social Amigos da Arte.

Se no início do século passado as manifestações modernistas não saíram do palco do Municipal, agora elas ganharam não só São Paulo como também o Brasil – e de quebra o mundo. Uma das programações que publicamos na Agenda ocorre na Argentina, no Museu de Arte de Buenos Aires, onde hoje mora o Abaporu, da nossa Tarsila. E pode ser visto gratuitamente por quem está aqui, de forma remota.

É importante dizer que a difusão das atividades, que abordam o movimento modernista nos seus mais diversos aspectos – quem esteve, os que faltaram, representatividade, diversidade, visão contemporânea, desdobramentos, entre outras coisas – são muito bem contempladas pelo trabalho realizado pela constelação das instituições públicas de cultura do estado de São Paulo que, cada uma à sua maneira, destrinchou e deu luz ao assunto da forma como ele deve ser visto hoje, cem anos depois.

Há, por exemplo, nas Fábricas de Cultura, uma série de atividades, inauguradas na semana comemorativa, que atingem desde o público infantil até o adulto. Tem desde contação de histórias a oficina de memes inspirados em obras modernistas. Pluralidade, mas sem perder a atualidade, é uma forma de conversar com o maior número de pessoas que, de alguma forma, vão ser tocados pelo movimento que começou no século passado e ecoa ainda hoje.

Não há fronteiras, provincianismo ou qualquer outra definição que impeça que a cultura, setor tão importante neste nosso país, siga sendo a engrenagem que faz girar a sociedade e ajude a história a perpetuar no tempo. Se ‘choraram e sorriram’ os modernistas, não faz diferença. O importante é seguir o ensejo que deram e exaltar o que temos de melhor: a nossa arte, a nossa cultura. “Brasileiros, chegou a hora de celebrar o Brasil”, ordenou Mário de Andrade. Missão dada é missão cumprida.

*Danielle Nigromonte, historiadora e Diretora Geral da Amigos da Arte – Organização Social de Cultura.